ou por que a pressão pela produtividade oprime o nosso tempo e os nossos desejos?
Se tornou inevitável, condicionamos nossas vidas muito mais à prazos do que à processos, repare! Se o neném tá pra nascer, muito mais nos interessa o quando do que o como. Se a encomenda tá pra chegar, muito mais nos interessa o quando do que o como. Se a viagem tá pra acontecer, muito mais nos interessa o quando do que o como. O modo como as coisas vão se realizar é mera consequência, o que nos importa é sempre saber o quando.
E assim construímos nossa estranha relação com o tempo, uma relação atravessada pela ansiedade e insatisfação, achamos ele sempre apressado, achamos ele sempre distante, e isso dificulta cada vez mais nosso senso de organização e por quê? Porque planejamos tudo de acordo aos nossos caprichos e pensando muito mais no fim do que no processo, sem respeitar que o tempo também tem suas demandas e age de acordo com elas.
Respeitar o tempo é
Assumir essa ancestral consciência de que há o instante pra plantar, pra podar e pra colher, é dar um sossega nessa ilusão imediatista do sonhar num dia e conquistar no outro, é ter mais atenção com o seu organismo e não tratá-lo como um maquinário produtivo, é se dar mais descanso do que demanda, é se programar pra começar segunda mas não desmerecer as quartas e quintas.
Tô falando aqui que tempo é escuta, é cuidado, mas é também perdão, é sobre se perdoar quando você não conseguir, quando você falhar, quando o tempo previsto pras coisas acontecerem não for o tal do “tempo certo”, é internalizar que não temos controle de tudo e que o tempo é soberano e não as nossas vontades.
Há tempos que Cartola já dizia que o mundo é um moinho e, ao contrário do que a gente pensa, ele não gira apressado nem devagar, ele gira conforme o vento. O tempo é e sempre foi o mesmo, nós é quem estamos voando cada vez mais na velocidade desenfreada dos prazos, da autocobrança, da insatisfação produtiva, nosso problema nunca foi com a falta de tempo, mas sim com a falta que temos tido em relação à nós mesmos, às nossas prioridades, aos nossos desejos. Faça seus planos, mas não se esqueça que o tempo, assim como o mundo, também hão de fazer os deles.
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