Com o avanço da tecnologia, nos vemos no dever de passar por adaptações e evoluções diárias no intuito de não ficar para trás nesse processo de transformação que o mundo vem passando.
Sendo a tecnologia uma constante na história da arte, que se constituiu essencialmente por imagens, procura-se perceber em que medida a tecnologia digital, vista aqui como um ponto de mudança na posição do sujeito face à produção criativa, interfere nos processos artísticos quanto a novas formulações a respeito do posicionamento do observador e do autor. Da intersecção que resulta dessa tecnologia com a criatividade, vemos a ideia da produção partilhada ganhar força e se constituir cada vez mais como uma vontade inerente à própria atitude do ato criativo.
Pensando em entender melhor esse movimento artístico dentro do espaço tecnológico no período da contemporaneidade, conversei com alguns artistas que elucidaram o momento que estão vivendo.
Por conta do impacto nocivo da pandemia do novo coronavírus, artistas reinventaram as formas de apresentação dos seus trabalhos.
Para a coreógrafa, bailarina e professora Priscilla Belle, os artistas tiveram que ampliar as capacidades criativas e ativar esses acessos no intuito de adaptarem os seus trabalhos:
“ ...eu consigo ter bastante opção e escolha com a ajuda da tecnologia para poder alcançar as alunas de maneira lúdica e didática sem perder a magia do presencial que é o toque, a atenção do olhar, as expressões...”.
Hoje a artista de danças orientais consegue ter uma gama de alunas de diversos países participando das suas aulas e nos vários eventos artísticos que promove virtualmente, contanto com a participação de outros profissionais da dança de diferentes nacionalidades.
“ Vejo essa resistência como algo normal, tendo em vista que ainda hoje, um ano depois do início da pandemia, ainda estamos em processo de aprendizagem e adaptação do fazer e consumir arte”.
Vale ressaltar que o acesso às novas formas de tecnologia ainda não é uma realidade em algumas cidades do país, principalmente fora das grandes capitais. Neste texto, vou priorizar informações sobre o acesso à internet, já que se trata de um sistema tecnológico global.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um estudo realizado em 2020 chamado de Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, mostrou que 46 milhões de brasileiros ainda não tinham acesso à internet. Em áreas rurais, a porcentagem era de 53,5%; em áreas urbanas esse número chegou a 20,6%. A pesquisa abordou também que 41,6% das pessoas não utilizam a internet por não saber usá-la; uma a cada três pessoas (34,6%) diz não ter interesse; já para 11,8% delas, o serviço de acesso à internet é caro. Para 5,7% desse total, os equipamentos necessários para navegar pela web, como celular, laptop e tablet, são caros.
Esses dados são preocupantes principalmente quando a vida agora está voltada para o virtual. Essa condição é o resultado da desigualdade social que o nosso país está instaurado. Infelizmente, as informações não chegam de forma equilibrada para todos.
Por conta do isolamento social, os artistas estão fazendo uso ainda mais de ferramentas tecnológicas para agregarem aos seus processos artísticos, basicamente pensando em como transmitir suas criações para o público, assim como aderindo elementos já muito utilizados no mundo, mas talvez não tão bem explorados por alguns artistas, como: mapping, sensores, programadores de jogos, robótica; uso de projeção e comunicação de equipamentos sem fio como mesas de som e luz, são alguns exemplos que estão sendo experimentados em performances e espetáculos acrescentando valor às suas obras.
A chegada do 5G ao mundo também é aguardado com muita expectativa por trazer muitas possibilidades e grandes avanços na forma de se comunicar e operacionalizar um futuro de milhares de dispositivos que estarão conectados simultaneamente à rede, tal como drones, smartphones, carros autônomos, e etc.
A arte continuará evoluindo junto a era digital, proporcionando que milhares de pessoas se conectem e tenham acesso a uma área que sempre foi tão desvalorizada, mas que em 2020 salvou tanta gente da tristeza de um período de isolamento.